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quinta-feira, 18 de outubro de 2018


EU SOU UMA LONGA HISTORIA

 50 ANOS DE RADIO

  José Roberto Mignone Cheibub

 
INTROITO

José Roberto Mignone é de Cachoeiro de Itapemirim (1948), iniciou sua carreira na ZYL-9, onde brilharam demais nomes do cenário local e nacional.

É pós-graduado em administração pela UFES, e pré-qualificado em mestrado em comunicação pela UNB.

 
EM RÁDIOS

Atuou nas principais emissoras (tanto em cargos artísticos quanto executivo):

Radio Vitória, Radio Capixaba, Radio Espírito Santo, Radio Tribuna, Sistema Gazeta de Radio, Radio América (prêmio nacional) e Rede Sim.

 
EXECUTIVO

Projetou e dirigiu as Rádios Tribuna FM, do Grupo João Santos, e Tropical FM (FAESA), Jovem Pan FM/AM de São Mateus.

 
EM TELEVISÃO

Trabalhou na TVE e TV Assembleia – Como apresentador de noticiários e entrevistador

 
ASSESSORIAS

Trabalhou na Assessoria de comunicação da Escelsa e foi assessor parlamentar em Brasília

 
EXTERIOR

Viveu nos Estados Unidos por seis anos, fez cursos de radio e TV na Bonneville Media Communication. Posteriormente fez estágio na Voice Of América (Brazilian Branch)

 
ARTICULISTA

Tem artigos sobre mídia publicados semanalmente no site seculodiario.com e RSim. Escreve na Revista SIM. Foi colunista no eshoje.jor.br.

 
ATIVIDADES RECENTES

Apresentou o programa Debate e Rebate na TV Sim.

Atualmente edita e apresenta o JORNAL DA REDE da Rede SimSat para 34 emissoras do grupo.

 
Certa vez ouvi um religioso fazendo sua pregação. Veio-me o pensamento da influencia das Sagradas Escrituras na humanidade. Achei que a essência da PALAVRA pudesse influenciar o rádio. Então criei esses dizeres com base no novo e velho testamento.

“As velhas e novas palavras
As velhas palavras abriram todos os caminhos 
As palavras novas calam mais profundamente a alma e o coração
As velhas palavras guiaram santos e profetas
As novas palavras atingem as mentes livres de dogmas e preconceitos
As palavras velhas determinam as orientações em busca da salvação
As palavras novas emanam um sentido novo através do entendimento
Radio se faz com Novas Palavras

 

 

CAPÍTULO UM

 

IMPRESSÕES SOBRE O RÁDIO

Nestes 50 anos minha convivência com o radio tem muitos significados, que vão desde aprendizado, decepções, vitórias, incompreensão, mágoas, realizações. Apesar de tudo, não me lembro de ter tido um dia em que fui trabalhar triste ou contrariado. Não me arrependo de nada neste longo período.

 
Trabalho em um tipo de veículo de comunicação que sobreviveu as mais diversas tentativas de modernização tecnológicas, ameaças que começaram com a televisão e chegou á Internet.

 
Na Internet o radio teve um alongamento de suas atividades. Arrisco a dizer que um nasceu para o outro e o futuro do radio fica sem limites com o advento da web.

 
Sempre tive uma dúvida de quem foi o inventor do radio. Os americanos dizem que foi Thomas Edison, os Italianos falam em Guglielmo Marconi e os brasileiros dão a patente ao Padre Landell de Moura. O padre gaucho fez a primeira transmissão no Brasil.

 
Uma coisa que prezo é a comemoração do Dia do Radialista. Sempre foi comemorado no dia 21 de setembro. Agora tem duas datas para se comemorar, a do dia 21 e a do dia 07 de novembro. Isso desnorteia os profissionais, que ficam sem saber qual a data verdadeira do seu dia.

 
Aos poucos o radio vai perdendo a sua real função que é de Instruir, Divertir e Informar, o tripé que norteia toda e qualquer programação. Mas hoje o radio não instrui, a sua diversão é duvidosa e a informação ultrapassada, apesar de ser o veiculo mais rápido, mas que vai perdendo essa prerrogativa.

 

Sempre quis trabalhar tendo um líder, uma pessoa com quem eu pudesse me espelhar. Apesar de ter dois veteranos do setor e aprender com eles a essência (Jose Américo e Geraldo Sobroza), tive que trilhar grande parte da carreira tendo que aprender sozinho.

 

Uma vez, ainda em Cachoeiro, ouvi uma cara falando numa radio de São Paulo. Aquilo me fez ficar estático ouvindo aquela voz, aquelas palavras, aquelas musicas, aquelas versões. Hélio Ribeiro passou a ser meu norte na profissão. Baseava-me em tudo que ele fazia, ate como gerenciava radio e, lógico, falar ao microfone.

 

Os principais momentos da carreira foram nos bastidores, dirigindo, montando radio e para isso ajudou muito o curso de Administração pela UFES porque havia momentos que tinha de empregar no radio esse conhecimento adquirido nos bancos da faculdade. Elegi meu ídolo na administração: O americano Peter Drucker professor e consultor administrativo.
                                                                                                              

No radio ou você é primeiro lugar de audiência ou não é nada. Não existe segundo lugar, não adianta ser um SBT ou Record da televisão, eternos vice campões de audiência. Nessa condição de vice, além da audiência esfacelada, a verba também é fracionada.

 

 

CAPÍTULO DOIS

 

ZYL-9 – RADIO CACHOEIRO – O INICIO

Em Cachoeiro de Itapemirim morava na mesma rua da Radio Cachoeiro, ate então a única emissora da cidade e já famosa pelos intermináveis nomes importantes que haviam passado por ela. Roberto Carlos o mais famoso, mas teve Jece Valadão, Carlos Imperial, Sergio Sampaio, Darlene Gloria, etc. Era o ano de 1964, ano do Golpe Militar. Comecei minha carreira em meio às lutas de opressores e oprimidos, sendo que neste ultimo, estava a imprensa da qual eu começa a lidar.

 Rua 7 de Setembro esquina com a Siqueira Lima, Cachoeiro de Itapemirim. Esse era o endereço da rádio. Apesar de muito jovem, sempre estava lá conversando com os operadores, locutores, afinal meu tio era o diretor da emissora, Jose Américo Mignone.

No primeiro momento estava limpando a mesa de som, no outro operando a mesa. O passo seguinte, ajudando na programação musical, no outro produzindo programa, no fim estava fazendo locução, apresentando programas.

 

APRENDIZADO

Tive professores importantes, do qual destaco a figura de Ruy Guedes Barbosa, locutor e musico. Lembro que a discoteca era abastada de 78 RPM e de LPS e compactos. Ali aprendi a qualificar musicas e intérpretes.

Ruy era o “cabeça” do famoso conjunto musical 007 e quando ele se referia ao grupo a gente percebia nitidamente ele pronunciar “conrrunto” . Isso me marcou

Na parte técnica de operação, profissionais de alto nível que me fizeram aprender de uma vez por todas. Alvino Cabelino, Miguel Souza, Miltinho Santos e Idelmacir Cesareo, Danilo Neves. Lembro da mesa de áudio SuperSom, dos gravadores Wollensac e Grundiing. Eram gigantes e tinha de manipula-los com destreza.

Trabalhava aos domingos nas transmissões das jornadas esportivas como operador e plantão. Só havia um gravador para gravar a partida. Saia os gols e a gente ia marcando com uma tira de papel. No intervalo, o comentarista pedia os gols e a gente já tinha voltado a fita para as marcas, soltando o gol a cada solicitação.

Ainda nos esportes, na Resenha L-9 aos domingos às 19hs, o locutor esportivo Sabra Abdala dava o resultado da corrida de cavalos do Bairro Noventa. Uma vez, Vendo que Miguel, o operador, estava de cabeça baixa fazendo ponta no lápis, o locutor Sabra Abdala, entre uma nota e outra, sussurrava no microfone (no ar) “Miguel”. Este desconfiou do turco Abdala e começou a prestar atenção. Quando Miguel se descuidava, Sabrinha sussurrava de novo, ate que uma hora Miguel encostou o ouvido no velho radio SEMP, foi quando Sabra gritou no microfone: Miguellll. E o susto? Isso tudo no ar, durante o programa.

 
O jornalismo da ZYL-9 tinha sua importância no todo da programação. O musico violinista e advogado Mozart Cerqueira (irmão do Geraldinho) era o redator do principal noticiário da emissora, o Noticiarista L-9. Cachoeiro inteira ouvia este noticiário de 10 minutos as 11:35 da manhã. O texto saia de uma velha e eficiente maquina Remington.

Os locutores eram Jose Américo e no final Sergio Sampaio, este mesmo, o cantor! Tinha um bom timbre de voz, e nessa época não me lembro nunca de tê-lo visto empunhado um violão na radio. Sergio andava com os intelectuais jovens da cidade e uma vez apareceu na radio impressionado com livro que estava lendo, onde um homem tinha um rato no cérebro. Era um Best Seller de Franz Kafka

Não podia deixar de relembrar um programa vespertino dominical, chamado “A Juventude Comanda”. Os apresentadores eram Nelson Pereira e Niltinho. Fazia muito sucesso, tanto que Nelson Pereira foi convidado a ter seu próprio programa na emissora.
 
Quem aparecia por lá e ás vezes ocupava microfone era Elyan Pipico Peçanha. Era inteirado dos sucessos, principalmente da Bossa Nova, e desenvolto no falar. Lembro de uma vez, eu fazendo o programa que tinha aos sábados, e Pipico me acompanhando no estúdio. Tocava Can’t Take My Eyes Off You. Quando eu anunciei frisei o OFF como OF e ele me corrigiu. A pronúncia seria “OV”
 
Era uma programação que começa todo sábado ás 17 horas. Todo ano mudava de nome. Começou em 1966 e o nome era Rota 66, nome da musica que o maestro americano (preferido de Sinatra) Nelson Riddle compôs e lançou em homenagem a famosa rodovia que fica na Califórnia, Rota 66. Servia de prefixo de abertura
 
A Rua Sete de Setembro não tinha fim. A rádio ficava no final da rua. Tinha o lavador (de carros) do “seo” Nelson. Tinha também a oficina mecânica dos Romanelis. Turoca era o mecânico. Quando a gente passava ele gritava la de dentro, “amanha vou lá hoje”
 
A discoteca ficava nos fundos do andar. Naquela época era lotada de discos de 78 rotações e alguns Long Plays. Estes começavam a aparecer. Nós já não usávamos os 78 rotações. Com os Lps vieram os compactos. A qualidade mudou um pouco para melhor. Mas as propagandas ainda chegavam em 78 rpm. As agulhas pareciam espinhos, daqueles grandes

CAPÍTULO TRÊS

 
AINDA A RADIO CACHOEIRO

A primeira emissora de Cachoeiro era abençoada a partir das 18 h. A Ave Maria, lida por Evandro Martins, bancário e irmão de Antônio Martins, este, também locutor.  Antônio fazia a locução noturna e aprendia a tocar piano ao mesmo tempo. Repetia aqueles tons incansavelmente, pacientemente. Este piano ficava no palco do auditório da emissora. Hoje mora na Praia do Canto e se aposentou pela Vale.

 
Foi neste mesmo auditório que Roberto Carlos cantava ainda menino. O programa era do comerciante e apresentador Cesar Misse. Sempre aos domingos pela manha. O pequeno auditório enchia. Lembro de uma vez meu futuro sogro conversando com a futura sogra no auditório lotado. “Seo” Geraldo Sobroza e dona Ely Souza

 
Depois, muito tempo depois, Zé Nanico, também funcionário da emissora (e bom vendedor), apresentava um programa sertanejo (que não me recordo o nome). Enchia de violeiros que vinham da região.

 
No intervalo, entre a Ave Maria e o programa de esportes das 18:30, apresentava-se diariamente o Regional de Mozart Cerqueira. Lembro-me de Zé Nogueira em um dos violões.

 
Chegou a ocasião que passei a fazer um programa de variedades entre 09 as 11.30 na ZYL-9. Pensando em ser diferente, uma vez disse que o ouvinte havia “arremessado” uma carta ao invés de dizer “mandou”

Foi o bastante para os amigos e conhecidos ligarem para a rádio me

“zoando”. Lembro que foi o Bruno Torres Paraíso, intelectual da cidade, além Baé Casotti e outros.

 
A rádio ficava no segundo andar de um prédio de três andares á beira rio como já frisei.  Tinha um varandão com duas janelas e uma porta que davam do auditório para a referida varanda. “Seo” Raul era o administrativo, cão de guarda do proprietário Idalecio Carone, de boa memória. Uma vez eu chegando na emissora, vi o velho na porta de seu escritório, provavelmente vigiando meu passos, foi quando pulei a janela e cai no varandão. Ele pensou que eu tivesse me atirado na rua. Foi o caos.

 
A equipe de esportes da radio (Jose Américo, Sabra Abdala, Solimar Cagnin, Oswaldo Amorim, Luís Carlos Santana, Hélio Carlos Manhães) transmitia via LP telefônica, de Sumaré, os jogos do Estrela sem problemas. Mas transmitir os jogos do Cachoeiro Futebol Clube em Arariguaba era um transtorno. Nessa época havia uma rivalidade incontida entre Cachoeiro e Estrela.

 
A LP era cedida pela ex Estrada de Ferro Itapemirim (Cachoeiro-Marataízes), através de seus telefones. Então durante a partida ninguém da Estrada de Ferro podia tocar em qualquer telefone da ferrovia, senão saia no ar. Certa feita jogavam Cachoeiro e Castelo, 2 a 2 e o Cachoeiro tinha o melhor meio de campo do Estado, Aroldo e Matias. Pênalti a favor do Cachoeiro, Matias pega a bola para bater... Silêncio no Estádio e na grande audiência, Matias bate e ....perde. Um funcionário da Estrada, torcedor do Cachoeiro, que estava na Estação no centro da cidade, precisamente na Praça Dr. Pedro Cuevas, pega o telefone e diz: Matias seu FDP!!! Pronto, escândalo na transmissão!

 
Depois de um tempo soube que o meio de campo Aroldo foi para Rio e que comandava a famosa Falange Vermelha. Matias continuou ser funcionário da Estrada de Ferro Itapemirim, como meu outro tio, o Roberto Mignone. Depois o governo estadual deu um fim na estrada de ferro

 
Idalecio Carone Filho saiu de Vila Velha e foi ficar com o pai em Cachoeiro. Idalecinho Carone (proprietário da Rede TV de Vila Velha) ficava na rádio. Era novo, devia ter uns 19 anos. Gostava de futebol e andou fazendo umas partidas no Estrela. Afinal era pertencente ao grupo que tinha Mala Velha, figura querida de Cachoeiro, que morreu precocemente e Kiko, craque do Estrela na época. Um dia coincidiu da ZYL-9 transmitir um jogo em que Idalecinho atuava. Sabra Abdala, repórter de campo, só para sacanear, finalizou a narrativa do lance dizendo: “foi um bonito gol do filho do meu patrão”

 
Ito Coelho foi um Cachoeirense que venceu no Rio como repórter esportivo. Trabalhou em grandes emissoras do Rio nos anos 50 e 60, como Nacional, Tamoio, etc. No fim de 1969 ele voltou á Cachoeiro e foi trabalhar na ZYL-9. A rádio tinha um jornal falado pela manha e eu tive o privilegio de trabalhar ao seu lado.

 
Na sua quase totalidade o jornal era feito de gilete-press, ou seja, a noticia era recortada direto do jornal impresso e levada para o estúdio. Eu e ele revezávamos na leitura das informações. Chegou a minha vez e a nota era sobre o foguete russo Soyuz. Sem ler antes, comecei a ler no ar, e dizia a nota do jornal impresso: “A Russia lançou ontem o foguete Soyuz (pronuncia-se Sayoz)...”. Dei essa mancada no ar. Nunca esqueci a gafe

 

CULTURA

Devido à proximidade com o Rio de Janeiro, Cachoeiro usufruía de certas regalias antes de Vitoria. Os jornais do Rio chegam antes das 8hs do mesmo dia em Cachoeiro. Os suplementos musicais das gravadoras (hoje não existem mais) estavam religiosamente na emissora a cada mês, com os lançamentos nacionais e internacionais. Isso facilitava o trabalho de todos. E isso não é um dado “bairrista”, era pela geografia mesmo. Um dos incentivadores para que eu lesse os jornais, principalmente o Caderno B do JB foi Paulinho Domingues, que era locutor da rádio. Paulinho é pai da Camila Domingues (TV Gazeta)

 
A Praça Jerônimo Monteiro era ponto de reunião dos chamados “intelectuais”, bem em frente ao busto de Newton Braga, o criador da famosa Festa de Cachoeiro (e do Cachoeirense Ausente) também em frente ao não menos famoso “point” o Bar Alaska e do Salão de Sinuca dos Nemers. E tem mais, Newton Braga foi um dos diretores da Radio Cachoeiro em tempos idos.

É neste busto que li uma das coisas mais bonitas de todas que me tocaram, um poema dele em placa de bronze, que em um trecho diz:

 
“...esta sensibilidade que é uma antena delicadíssima,

captando pedaços de todas as dores do mundo,

e que me fará morrer de dores que não são minhas.”

 
Nunca esqueci essas palavras, desde então.

Me orgulho de ser de Cachoeiro de Itapemirim. Afinal sempre brinco que sou o mais cachoeirense de todos, simplesmente por ter nascido no sobrado da família, que ficava na esquina da rua Capitão Deslandes com Sete de Setembro no coração da cidade.

 
Em paralelo a Capitão Deslandes na parte de baixo, ficava a Rua Siqueira Lima, onde moravam grandes e bons vizinhos, Os Meireles, os Vivacquas, os Tanures, os Portas, os Lemgruber, os Reinz.  Além da famosa Agência Ford, tinha também a lendária “Pensão dos Inocentes” e a alfaiataria do Atílio (pé de ferro)

 
TIRO DE GUERRA

Foi nessa época que fizemos o Tiro de Guerra 220 de Cachoeiro. Cabeça raspada e tudo mais. Colegas como Lelei Dessaune, João Patricio, Marcelo Chaquibe, Helio Goiaba, Átila Miranda, Lino, Sergio Garschagen, Meneghelli e tantos outros.

 
Boas lembranças!

CAPÍTULO QUATRO

 
ETAPA VITORIA

Recebi um convite para trabalhar em radio na capital. Partiu de Oswaldo Amorim (cachoeirense que antes atuava na equipe de esportes da ZYL-9) e que na ocasião estava como diretor nos Diários Associados de Assis Chateaubriand. Aceitei desde que pudesse estudar fazer uma faculdade. Tinha terminado o Tiro de Guerra no ano anterior. Com 19 anos vim para Vitória. Era o ano de 1969 quando o homem pisava na lua. Cheguei á Radio Vitória, na época, a mais popular da capital. Logo iria bater saudade do  meu pequeno Cachoeiro e tudo que lá deixei. Deixei a Radio Cachoeiro, os colegas, os amigos, a família e vim para Vitória.

 
Detalhe: Lembro que era novembro e meu tio Roberto emprestou sua velha Rural Willys para que me trouxessem á Vitoria. Quem me trouxe foi o amigo Gersinho Moura ao volante. Aportei na república da Dona Francisca, na Marcondes de Souza, perto da antiga Rodoviária no Parque Moscoso. Nessa república tinha Coelho, Alípio (peu), Urso Branco e outros

 
RADIO VITÓRIA

Meu primeiro ato na emissora foi gravar umas vinhetas com o então vereador Gerson Camata, no estúdio Audiomax de Eurídice Gagno. Audiomax, talvez o único estúdio de gravação da capital, ficava no Palácio do Café na Costa Pereira. No térreo existia o famoso Salão Garcia. Quando governador, Élcio Alvarez frequentava direto.

 
Minha missão na radio era ser uma espécie de porta voz de Oswaldo Amorim em toda programação e fazer um programa á noite, pois tinha o cursinho durante o dia. O programa que fazia tinha de tudo, muito rock, MPB e isso causou espanto para uns ouvintes e admiração em outros.

 
A Radio Vitoria era no Ed. Moisés, em frente aos Correios na Av Jerônimo Monteiro. Alias, começaram a asfaltar a avenida nessa época, 69 e 70. Ficava no último andar

 
A programação era toda popular, mas o forte mesmo era o Ronda da Cidade e o Escrete de Ouro, a equipe de esportes. Essa equipe era o xodó do diretor Oswaldo. Às vezes a Federação Capixaba de futebol mudava horário de jogos a pedido da equipe. Lembro bem disso.

 
Uma vez o diretor me pediu que acompanhasse o final do Ronda da Cidade presente na técnica de operação, pois Camata tinha mania de ultrapassar o horário, prejudicando o programa seguinte feito por Itaquassy Fraga. No dia fui e fiquei atrás do operador de som. Se eles passassem do horário tinha ordens para cortar o programa. Eles terminaram em cima. Na realidade colaboraram com minha missão. Tinha 19 anos, e fazer frente a um Camata, Cramenha e Mister X não dava.

 
Na realidade aprendi muito com o esporte da Radio Vitoria, com todos os profissionais que compunham o quadro do Escrete de Ouro. Aprendi também com uma figura lendária do radio capixaba, Alfredo Mussi e o seu “Madruga Também é Mulher” Este programa começava realmente a meia noite e prosseguia madrugada adentro.

 
Fiz vestibular e passei na UFES em Administração e continuava na Radio Vitória. Estudava pela manhã e trabalhava a tarde e noite. A Lanchonete Rio Doce era nossa salvação, frequentada por muita gente da radio Vitória como Fraga Filho, Hino Salvador, Orlando Santos e outros. Ficava ao lado do prédio do Banestes na Praça Oito. Eu ia de vez em quando e comia seu famoso sanduba triplicado de coisas, isso em meio a prostitutas ali da beira do cais.

 
A audiência da radio na Grande Vitoria era total. Castelo Mendonça comandava as manhãs. Edyr Costa e Carlos Alberto Malta (o pequeno notável) cuidavam da programação musical e bem! O noticiário era feito por Floriano Leubach, Florisvaldo Dutra e Jorge Gropo. Como não aprender como essa turma? Fui um privilegiado.

 
No andar de baixo, funcionava a TV Vitória, comandada por (Magno Telles) e o superintendente era Duarte Júnior. Há! Lembro-me dos câmeras da TV, Camatinha e Zé do Egito, este, alfaiate nas horas vagas. Cheguei a fazer um programa na TV cujo conteúdo era mostrar capas dos LPs que estavam estourados, mas nada que pudesse inserir em meu currículo. A  estrela da TV era Euzenete Lucas, irmã de Edmar Lucas do Amaral, também funcionário e apadrinhado de João Calmon.

 
COISAS LEMBRADAS (com colaboração de Paulo Duarte)

ACIDENTE

Rômulo Gonçalves entrou para fazer o horário de Dery Santos. Era diariamente às 6hs. Na TV havia um projetista de nome Jerzy (origem polaca). Resolveram promover os locutores da emissora e num sábado pela manha foram todos tirar fotos na Barra do Jucu. Na volta, na altura do IBES, a Vemaguete dirigida por Rômulo saiu da pista e tombou três vezes. Um susto. Todos saíram ilesos. Eu estava com eles.

 
CARNAVAL

No carnaval de 1970, se não me engano, Oswaldo Amorim enviou para Guarapari eu e Juarez Brito. Tivemos de cobrir o carnaval no Siribeira Clube, o clube da época. A gente transmitia de dentro do salão em meio àquela balburdia. Ficávamos hospedados em um quarto dos fundos do próprio clube. Cumprimos nossa missão.

 
ASCENSORISTAS

Não poderia esquecer os ascensoristas do elevador do Ed Moisés. Pela manhã era Oswaldino. Viva limpando a placa de botões com a mão tremula. Bebia muito durante a noite. Á tarde era “seo” Jaime, gente boa, paciente, brincalhona. Duas figuras.

 
CONTABILIDADE

O caixa era Arnaldo Calimam. Muito CDF. Vale era com ele. Quando dos jogos, ajudava a galera a esticar fios no estádio. Tinha também o Ernane e a Maria Cajueiro.

 
TÉCNICA

Jose Luzardo da Rocha comandava a área. Ali se destacava o João Carlos, que se aposentou quando sofreu um acidente de carro a trabalho. Tinha o Bidú, que depois foi para a Gazeta. Equipe boa

 
DISCOTECA

Duas figuras de primeira grandeza. Edir Costa, que naquela época já era DJ e Carlos Alberto Malta, o pequeno notável.

 
OUTROS

Alguns personagens da Radio Vitoria da época, a maioria servindo o esporte. Tinha o Julio Simas e seu topete, Fraga Filho, que fazia um programa de reminiscências todo sábado. Alexandre Santos fazia plantão esportivo de vez em quando e trabalhava nos Correios, em frente. Enéas Silva, apelidado de Diabo Louro também trabalhava na rádio.

 

MUDANÇA DE REPÚBLICA

Importante enfatizar esse pormenor. Gilsinho Leão (quase primo) estudava também em Vitoria, cursando Odontologia na Ladeira São Bento no centro de Vitoria. Gilson tinha um apê no Ed Abaurre ao lado do Moinho Buaiz. Eu e Ze Coelho saímos da Pensão de Da. Francisca e fomos para lá. No andar de cima moravam, Camata, Rosenthal Calmon e seu irmão que era engenheiro da Vale. Lembro ver sempre Gerson com uma revista Veja nas mãos. Naquele tempo já era deputado estadual

 
Quem se juntou a gente, mais tarde, foi Gonzaguinha Belo. Geralmente no fim do dia, ele juntava alguns plásticos dos Lps de Zé Coelho(trazia da rádio para ele) enchia de água e jogava em cima do pessoal da fila de ônibus que ia para Vila Velha. O ponto ficava embaixo do prédio. Viação Alvorada dos Lorenzutti. Uma zorra de fato!

 
Mas demoramos pouco ali. Gilsinho passou no concurso do Banco do Brasil e foi enviado para Mafra, SC e tivemos que deixar o Ed. Abaurre.

CAPÍTULO CINCO

 
HELAL MAGAZIN E CAPIXABA

Entre 1974 e 1975 havia recebido um convite para trabalhar na lojinha da Helal, comandada por Zaki Helal, que ficava na Rua Duque de Caxias, atrás da grande Loja de departamentos da família. Eu era o responsável pela compra de discos das gravadoras e ajudava na sessão, embora o forte da loja fosse a comercialização de motobikes e motocicletas de grandes potências.

 
Ali fiz grandes amizades com representantes de gravadoras, como Odeon/EMI, CBS, RCA, Polygram, Ariola, ContinentaL e SomLivre. Eram viajantes que tinha Vitoria como rota e nossa capital era tida com uma boa praça de venda de discos. Lembro do português da Odeon, depois Nilson, do Carlinhos da CBS e depois Marcão, Victor Hugo da Polygram/Phillips, Geraldo da Continental e outros que não me recordo mais

 
Nesta época morava em uma república na Antônio Aguirre, de frente para a antiga Odontologia. Meu companheiro de quarto era o saudoso José Coelho, cachoeirense também. Ele dormia, isto é, a gente dormia ouvindo a Rádio Jornal do Brasil, no seu radinho. Na época faziam receptores de verdade, pegavam todas as rádios em ondas medias e curtas.

 
Havia um programa somente com musicas de qualidade nacionais e internacionais chamado “Noturno” produzido e apresentado por Luis Carlos Saroldi, excelente produtor de radio e que estava na JB. O programa terminava á meia noite. E a gente já quase pegando no sono, ouvia o INFORME JB com nada mais, nada menos Eliakim Araujo. Lembro ainda, que nosso ex-companheiro de republica Rosenthal Calmom Alves se mudou para o Rio, arrumou emprego na JB e produzia parte deste noticiário noturno, apresentado pelo Eliakin.

Rosenthal mandava noticias do Rio e curtia com nossa cara, ele que via a gente ouvindo a JB e que naquele momento redigia o informe para Eliakin ler.

 
Eu dividia o tempo na lojinha e na Radio Vitória, ate que um dia soube que Jairo Maia havia comprado da Radio Capixaba, da Arquidiocese de Vitoria, cujo Bispo era João Batista da Motta e Albuquerque. Recebi convite do Jairo Maia para ir trabalhar na emissora da colina, com ele e seu sogro Jefferson Dalla. Jairo era amigo do meu tio Jose Américo (veio de Bom Jesus e passou por Cachoeiro) e também já sabia de minha atuação na Radio Vitoria. Oswaldo Amorim me liberou e Zaki Helal concordou. Fui trabalhar com Jairo Maia.

 
Jairo sempre se deu bem com faturamento em seus programas de radio. Concebeu um pensamento simples: Se eu faturo X com três hortas de programa, então irei faturar X+Y com uma programação inteira de radio. Ledo engano. Não foi assim. Passados três anos, fez negócio com a família Borges e Huguinho assumiu. Jairo Maia tinha também suas lojas de discos (as melhores na época). Neste comercio ele enriqueceu. A que mais tinha movimento era a do Parque Moscoso.

 
Ele contava (piadista nato) que sua clientela do Parque Moscoso era composta de pessoas simples, mas que compravam de fato. Gostava de contar o caso de um cliente, que comprando se preocupou com seu veiculo estacionado. Então pediu um momento para ver se estava tudo bem. Era uma bicicleta.

 
Outra historia eram de pessoas que estavam testando os discos que iriam adquirir ouvindo através do fone de ouvido. Quando gostavam gritavam elogiando e até xingando na maior altura. Isso porque dificilmente elas não têm noção da altura da voz quando estão com fones no ouvido. Ele se divertia com isso. Seu gerente de lojas era Nilson Matias, que posteriormente veio a ser divulgador da Emi-Odeon

 
O REGISTRO

Os membros dessa republica, ao lado da antiga Faculdade de Odontologia. eram Jose Coelho, Dietrich Kaschner, Ricardo Oliveira (o secretário de saúde), Rosenthal Calmon Alves, o jornalista renomado e Jose Tarcísio, hoje diácono. Em cima morava o proprietário do imóvel, Sr Beresford, homem bom e educado e pai de uma bonita menina, na época.

 
OUTRO REGISTRO

Mary Helal, irmã de Zaki e hoje esposa de Manuel de Paula, trabalhava como secretaria do pai e do tio John no Magazin Helal. Eu era escalado (convidado) a almoçar com a família aos domingos na casa da Saturnino de Brito para ler o versículo da bíblia escolhido pelo sr. Constanteen antes do almoço.

Foi nas ruas da Praia do Canto que  aprendi a dirigir. Quem me ensinou foi justamente Mary Helal, que era um ás no volante.