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quarta-feira, 17 de outubro de 2018


CAPÍTULO TREZE

PERÍODO ESTADOS UNIDOS
Foi um divisor de aguas na vida. Havia uma promessa de trabalho na Voz da América, setor brasileiro em Washington D.C. Aliás era um sonho antigo trabalhar nos Estados Unidos exercendo o que eu gosto de fazer e sendo pago em dólares. Mas nem tudo acontece como o planejado. Fui com a família. Aportei em Los Angeles.

Só que enquanto eu esperava o chamado de Washington, o pais entrava na Guerra do Golfo e o governo federal parou todas as atividades contratuais nos órgãos federais.

Após um ano, o próprio governo americano pede para que eu fizesse uma prova para a Voice Of America. Fiz e passei. Mas a convocação demorou mais um ano e nesse interim, o serviço brasileiro na VOA foi fechado por motivos administrativos, ou seja, eles não queriam falar para américa do sul, se restringiram a Cuba.

Dai fui para Nova York onde passei mais dois anos. Antes do Brazilian Branch fechar fui várias vezes á Washington e com a permissão deles consegui desenvolver algum trabalho interno na VOA. Quando isso acontecia, executava o que faria como funcionário. Traduzia do inglês para o português e gravava. Tudo sozinho, sem operador, sem editor.

Quando vivi com minha família nesses dois lugares, Los Angeles e New York,  ouvia muitas emissoras de radio, visitava outras, conversava com o pessoal, participava, etc. O radio é mais pulsante em Los Angeles que em New York

A família de Mônica foi fundamental para que pudéssemos ter firmeza de enfrentar todo este período em terras americanas.

Em Los Angeles teve um período que me empreguei na Pizza Hunt e com isso aprendi muito sobre cidadania, compromisso e contato com o povo americano. Foi la que aprendi que “o seu direito termina quando começa o direito do outro”

 
ALGUMAS PASSAGENS LÁ

TRICKY HARRIS

Enquanto dirigia no transito louco de Los Angeles entregando pizza, ficava ouvindo a KCSN 88.5 FM, especializada em musicas Adult Contemporary. As 16 hs ela sorteava dinheiro para quem soubesse dizer qual a musica que tocou em um determinado horário, mais cedo. Quando sabia eu ligava, mas outros já tinham matado a charada primeiro que eu.

Um dia descobri que Harris morava na minha área de atuação. Fui ate a casa dele com uma pizza grátis de presente. Ele me recebeu solicitamente e ainda meu deu uma camisa da emissora, além, lógico, de trocarmos ideia.

 
O CAMINHÃO DA PEPSI

Toda quinta pela manha, havia entrega de suprimento para a pizza Hut. Quem trazia era um caminhão truck, com massa de pizza, queijos, bebidas, etc. Era eu quem o recebia. Seu motorista, de nome Tony, era de origem mexicana. A gente conversava bastante enquanto descarregava.

Quando a gente se cruzava no transito, ele buzinava forte ao passar por mim em meio aquele transito louco. Eu gostava daquilo. Parecia que já era do lugar.

 
DAYSE

Dayse era uma colombiana baixinha, responsável pela salada servida no lunch time da pizzaria. Falava demais. Um dia pensei em pregar uma peça nela. Peguei um retrato meu, daqueles que a gente tira no Studio Universal, onde aparece a cara e o nome numa revista famosa e levei cedo para a pizzaria.

Neste horário só estava Quino, um pizzarolo mexicano preparando as pizzas do dia. Cheguei, peguei uma escada sem ele ver, tirei um dos quadros da parede (a decoração era de quadros com artistas de cinema), arranquei o artista e coloquei meu retrato. Subi e coloquei na parede sem Quino ver. A localização do quadro ficava onde era formada uma fila diária no horário do lunch time, tipo meio-dia.

Tinha saído para um “delivery”. Quando voltei estavam todos agitados comigo. Um dos fregueses, na hora de pagar, virou-se para Dayse no caixa e disse: “JA VI AQUELE ALI POR AQUI!”, apontando para o quadro em que eu estava. Dayse se afastou, abaixou um pouco para ver quem era. Levou um susto quando viu meu retrato lá.

Vim em borá para o Brasil e a Pizza Hut da Sepúlveda (PCH) ainda ficou cinco anos no local ate ser destruída. Mas o meu retrato ficou lá ate ela fechar. Os funcionários preservaram o quadro lá, não quiseram tirar.

 
CARROS

Entregar pizza (que nunca me envergonhou) me deu a felicidade de morar em apartamento com três quartos e ter dois carros. Eram dois fuscas cabriolet, sendo um deles conversível. As crianças estudavam á tarde e sempre tinham uma pizza de lanche.

 
RECONHECIMENTO

Ao sair da Pizza Hut esta me deu uma carta de recomendação, embora solicitada por mim, não é praxe este tipo de ação, principalmente com estrangeiros.

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