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quinta-feira, 18 de outubro de 2018


 CAPÍTULO SEIS

 

RADIO CAPIXABA - O MOTIVO

Jairo Maia adquiriu a Radio Capixaba equivocadamente segundo ele próprio. Ele pensou que faturando X mensalmente fazendo três horas de programa, por dia poderia faturar XX tendo uma radio só dele.

 
E o tempo veio provar que ele estava errado. Ele tinha sua radio mas continuava com seu horário de três horas. Faturava no seu horário mais o que o restante da programação. Quer dizer, a programação da Capixaba não tinha retorno financeiro a não ser o horário dele. Assim foi também em todas as rádios que passou, inclusive na Gazeta.

 
Jairo era um bom radialista e bom dono de radio. Na sua gestão fomos a dois Congressos de Radio da ABERT e tivemos um curso com o mentor de Hélio Ribeiro de São Paulo.

 
A radio tinha seus craques. Guilherme Amorim, Isaias Marques, Esmael Bezerra, Venceslau Gomes, Pedro Vidigal, Tião Silva, Sebastião Zata, Jose Carlos Siqueira, Luís Carlos Vanzeler, Jose Henrique Pinto, Ângelo Ribeiro. Eu gostava de lidar com esses profissionais. Eram muito bons.

 
Foi na Capixaba que eu fazia um programa de versões (com base em Hélio Ribeiro) diariamente entre 18 e 19hs. Foi nessa época que as versões apareceram. Este programa marcou uma geração.

 

ROBERTO CARLOS

Toda a vez que RC vinha fazer show no Estado enaltecia Jairo Maia no palco. Jairo sempre tentava fazer uma entrevista com o escorregadio Roberto. Em duas entrevistas, eu fui junto com Jairo. Uma em Cachoeiro e outra em Vitoria, no Hotel Cannes.

 
Nessa, Esmael Bezerra foi como operador do imenso gravador que havíamos levado, pois Jairo queria que Roberto gravasse umas vinhetas para a radio e tinha de ser com qualidade de som. Jairo resolveu mudar o estilo de programação. Tirou todos os apresentadores e começou a rodar somente sucesso, entremeados com vinhetas. A radio ganhou ate um slogan “Musicalíssima”, nome que JM queria que RC gravasse.

 
Os quatro trancados na suíte do hotel. A gravação demorou por dois motivos com culpa do enigmático Roberto. Uma porque sua moeda de estimação caiu no chão e fomos acha-la debaixo do armário, após muito procurar. Não gravaria se não a achasse. A outra porque ele, Roberto, grava e ouve mais de três vezes a mesma coisa. Já devia ser o tal do TOC. Por mais que explicássemos o tom de voz, Roberto não acertou. Para mim foi de propósito. Mas jogamos no ar assim mesmo!

 
AINDA A RADIO CAPIXABA

 
Rita Lee – No auge, Rita Lee veio a Vitoria e foi ate a radio ser entrevistada. Ela viu as ruínas da Cúria Diocesana que tem ali e quis ir ver de perto. A levei ate essas ruínas (fundos da radio) e ela ficou maravilhada. Quis ate bater foto. Gente muito boa, a Rita Lee.

 
Hélio Ribeiro – Em um Congresso da ABERT em Brasília, encontramos com o mito Helio Ribeiro. Conversamos muito e temos uma foto que aparece ele, eu, Jairo, meu tio Jose Américo e Idalecio Carone; esses dois estavam pela Radio Cachoeiro ZYL-9.

 Radio Transglobe (aparelho)

Lembro que sentávamos na portaria da radio (era uma espécie de convento), de frente a rua, onde se via o cruzamento da Gama Rosa com as ruas Dom Fernando e Caramuru, cidade alta, e ficávamos ouvindo o programa de Hélio Ribeiro na Radio Bandeirantes através de um potente aparelho “transglobe”, ao lado de Guilherme Amorim.

 
Ângelo Ribeiro – Ângelo aparecia para transmitir alguns jogos de futebol através da Capixaba. Anjão (como o chamamos) sempre foi inquieto. Todos sabiam que era maquinista da Vale do Rio Doce.

Essa história muitos conhece: Uma vez, escalado para uma viagem de trem e com um jogo para transmitir que ele mesmo havia vendido o patrocínio, Ângelo fez acontecer o inusitado. A linha passava ao lado do campo onde teria o jogo. O que fez Ângelo Ribeiro? Veio conduzindo o trem e quando chegou rente ao muro do estádio, parou o comboio (de minério) e transmitiu o jogo de cima da locomotiva. Os equipamentos já estavam no campo. Foi tudo bem, tudo certo!

Foi ele que “lançou” gente como o Jarzinho (Jair Oliveira) que depois veio a ser um baluarte na crônica esportiva capixaba. Também de Adílson Caldas, um bom repórter esportivo de campo.

Aylor Barbosa – Baseado na Radio Globo e seu famoso carro de externa no Rio (na época), Jairo Maia quis colocar um carro nas ruas. Nenhuma emissora praticava esse serviço aqui em Vitória.

Para tal, entrou em contato no Rio com o radialista Aylor Barbosa, que fazia esse trabalho na Tupi. Aylor aceitou vir para Vitória, se hospedando no Hotel Minister no Parque Moscoso.

Um dia, Pedro Vidigal instalava um radio transmissor numa Kombi velha da própria radio. Ate Jairo Maia comprar um fusca, era esse o carro de externa da Capixaba. Eu vendo o símbolo da antiga radio ostentado na porta da Kombi atinei logo para o nome desse trabalho. Nas portas tinha desenhado uma águia de asas abertas.

Baseado nessa águia, que do alto tudo vê, seja a distancia que for, batizamos Aylor como o Águia da Colina. E pegou.

Mais uma vez, Helio Ribeiro inspirava a gente. La ele tinha o helicóptero da Bandeirantes com o repórter voador Fraz Neto. Lembro bem.

 
RUI MONTE – O REPÓRTER VIVO, MUITO VIVO

Ele tinha acabado de chegar do Rio, e a dupla Jairo Maia e Jefferson Dalla deu uma oportunidade a ele como repórter esportivo. Dei logo um horário para ele com o nome de FATOS ESPORTIVOS, programa na parte da programação noturna da Capixaba. 

Sempre chorão, um dia Rui Monte aparece na sala dizendo que precisava de roupas novas. Eu, sabedor que João Havelange, recém-empossado presidente da FIFA estaria em Vitória, disse ao Rui Monte que se ele trouxesse uma entrevista com João Havelange, daria as roupas.

Rui foi para o aeroporto, e mesmo debaixo de chuva ficou esperando o jatinho do homem. Ninguém da imprensa, só ele. Assim que a aeronave parou, Rui correu e entrou no avião, mas foi barrado, lógico, MAS POR SORTE, João Havelange estava sentado logo na frente e viu tudo, talvez compadecido de Rui Monte estar todo molhado e com o gravador nas mãos, ordenou ao pessoal que deixasse Rui entrar. Rui fez a entrevista com exclusividade.

 
No dia seguinte aparece ele na rádio com o gravador e a entrevista. Colocamos no ar e eu o apelidei do Repórter vivo, muito vivo, sendo que carregou esse slogan por muito tempo. Bom profissional o Rui Monte!

 
DOM JOÃO BATISTA DA MOTA E ALBUQUERQUE

Já sob o comando de Jairo Maia, a radio continuava nas dependências da Cúria na Cidade Alta. Dom João, já quase aposentado, fazia ainda a Ave Maria das 18 horas na radio. Sempre simpático e brincando com a gente. Uma vez ele descobriu que eu fazia aniversario naquele dia e disse que poderia emprestar sua capela particular para eu agradecer a vida. Fui e todo ano faz a mesma coisa ate ele morrer. Lembro muito de Dom João, com aqueles cabelos brancos, feições bem feitas e uma simpatia de fé. Mais uma vez fui um privilegiado.

CAPÍTULO SETE

 

FASE  ESCELSA E RÁDIO CAPIXAPA DE HUGO BORGES

Recém formado na UFES e continuando a trabalhar na Capixaba de Jairo Maia, surgiu a chance de fazer uma coisa que não seria radio, mas que se aproximava disso: Trabalhar na Assessoria de Comunicação da Escelsa.

 
Com indicação de uma grande amiga, fui aceito lá. A Eletrobrás tinha enviado um funcionário especializado para montar a equipe de comunicação da empresa. Marcos Conde era o nome dele. Uma equipe foi formada com o jornalista João Barbirato, eu, a secretaria Marinetti Silvestri e ele, Marcos Conde.

 
Fiquei ali por uns três anos trabalhando (de terno) e fazendo boas amizades. O prédio da Escelsa era no Ed.Galerão, ao lado do prédio da Gazeta na Gal Osorio, no centro. Aprendi muito, aprendi outras coisas inerentes.

 
Tinha uma pessoa do alto escalão da Escelsa que era fan de nosso trabalho na Assessoria. Mário Petrocchi de Oliveira,  que um dia veio a comandar esse setor.

 

VLADIMIR GODOY NA HISTORIA

A TV Gazeta, recém inaugurada, arriscava fazer uns comerciais lá. Lembro que me escolheram para fazer o comercial da própria Escelsa. Depois apareceu um da Lima&Lima Corretora. Recordo que este foi em branco e preto. Em todos eu figurava de terno (talvez por que me viam assim, já que eram vizinhos)

 
Naquela ocasião a Gazeta procurava por um apresentador. Iria estrear o jornal da emissora. Wladimir Godoy tinha vindo da Globo para montar o jornalismo. Fui chamado por ele. La chegando, depois de alguma conversa ele disse que eu poderia ser aproveitado se fizesse o teste. Se desse certo seria eu o primeiro apresentador do jornal televisivo. Fiz o texto e deu certo. Mas o seríssimo Wladimir me pediu para raspar o bigode (usava um vasto na época).

 
Novo e inexperiente eu disse que não tiraria nunca. Consequência: apareceu o colega Enock Borges e foi escolhido, Depois veio a dupla Rui Crespo e Maura Miranda.

 

CAPIXABA DE HUGO BORGES

Nesse interim, Jairo decepcionado com a Radio Capixaba, fez negócio com o velho Hugo Borges, que era radialista, além de politico. A Radio foi parar nas mãos de Huguinho, seu filho, de boa memória.

 
Como eu estava na Escelsa, Huguinho entrou em contato comigo falando precisar de meus préstimos e ajuda-lo a dirigir a emissora. Ponderei que não dava e a resposta dele foi a seguinte: Dirige a radio daí e venha aqui no final do dia. Topei e deu certo…

 
Querendo fazer uma radio bem noticiosa, Huguinho convidou algumas pessoas para trabalhar. Entre elas a jornalista Dalva Ramaldes e Rose de Freitas. Esta ultima para fazer um programa, Sala do Povo, já visando a politica tendo Huguinho como mentor.

 
Lembro bem da galera dessa outra Capixaba: Tinha Miguel Roldan, que apareceu na Audiomax de Eurídice Gagno, sedo que Huguinho levou para a Capixaba. Tinha Romário Vanderlei, Geraldo Sobroza, Solange Bermudes e Cavatti. Esse era o pessoal da retaguarda. Os do front continuavam os mesmos.

 
CONGRESSO EM CAXIAS DO SUL

Essa vale registro.

Iria ter um Congresso de Radio da ABERT em Caxias do Sul. Cavatti, mesmo sem saber o significado de um congresso desse quilate, comentava com Huguinho sobre. Dai apareci na sala. Huguinho me encarando disse: Você gostaria de representar a radio Capixaba em Caxias do Sul? Disse que sim. Ele retrucou, mas vocês dois podem ir, desde que apresentem uma tese.

 

A TESE E A REPERCUSSÃO

A tese que levei e defendi era simples. A criação de RadioEscolas no Brasil. Elas ensinariam o radio prático e não teórico, através de profissionais capazes em cada setor do país, norte, sul, oeste. Seriam mantidas pelo governo através dos Ministérios da Comunicação e da Educação.

 
O MiniCom supervisionaria as rádios e o Mec filtraria os alunos nas faculdades convencionais e posteriormente os enviaria para as RadioEscolas. Lógico, aqueles que gostariam de fazer radio.

 
Lá em Caxias, ao ser apresentado em plenário, ganhou louvores der todos os presentes, ao ponto da imprensa que cobria o evento vir questionar e saber mais amiúde detalhes do projeto. Foi a tese mais interessante do referido congresso, segundo se soube

 
A Abert pegou a tese para elaborar estudos e viabilizar o projeto. Mas perdi o contato e nunca mais soube dele. Vi que um politico criou um semelhante no norte do país, talvez baseado nesse nosso RadioEscola

 
Admirava Huguinho Borges por esses ímpetos.

 

TELEVISÕES NA RUA

Lembro um fato criado por ele. Na copa de 1978 Huguinho vendeu uma ideia para os patrocinadores. Colocar aparelhos de TV’s nas principais praças de Vitória para o povo ver os jogos da Copa. O som da narração seria da Capixaba. Ele Colocou, mas não deu muito certo pois os jogos eram a tarde e a luminosidade atrapalhava a visão da galera. Detalhe: Naquela época não existiam telões.

CAPÍTULO OITO

 
FASE NASSAU (TRIBUNA FM)

Essa fase foi crucial na minha carreira. Foi um divisor de águas em toda minha vida. Tinha chegado ao ápice do profissionalismo ainda muito jovem, tinha apenas 30 anos. Se João Santos não tivesse desaparecido no acidente de avião no Paraguai, hoje a comunicação aqui no Espirito Santo seria diferente. João Santos iria montar um grande complexo de radio e TV em todo Estado. Sua morte mudou a historia do radio, jornal e televisão do Espírito Santo e toda minha historia profissional também.

 
JOÃO SANTOS FILHO

Desempenhava o trabalho na Escelsa quando Mauricio Prates, ainda em Cachoeiro, liga dizendo que tinha indicado meu nome a João Santos para montar a Tribuna FM em Vitória. Mauricio trabalhava na fabrica de cimento do grupo em Cachoeiro e por gostar muito de musica e de radio, montou a Tribuna FM de Cachoeiro, primeira concessão em radio do Grupo Nassau.

 
Fui convidado a ir ao Rio conversar com João Santos Filho, que ficava no escritório do grupo na Av. Rio Branco. João Santos fazia ponte com Vitoria e Rio. 

Ele disse que gostaria de contar comigo “full time”, disse também que eu montaria a Radio Tribuna, a segunda concessão de radio e que os recursos viriam da fabrica cimento Nassau em Cachoeiro.

 
Recordo bem deste momento. Retruquei convicto que seria difícil, pois tinha a Gazeta com suas estrutura bem montada, com radio e TV, e que o nome Tribuna estava no momento desacreditado. Ele segurava nas mãos uma borracha de apagar, dessas branquinhas, quadradinha, grossinha. Ele partiu a borracha no meio com os dedos, de tanta raiva, enquanto dizia para mim:

 
“ Primeiro, disse ele, aquela Gazeta não será isso tudo ate a gente montar nosso complexo de comunicação em todo Estado, ela é dirigida por um bon vivant (referindo a Cariê); segundo, o nome Tribuna voltará a ser respeitado, começando com você. Você ira buscar dinheiro vivo em Cachoeiro para montar sua radio, quero em tempo recorde, Quero ela pronta em 60 dias. Tudo á vista” finalizou. E foi assim que aconteceu. Naquele momento tinha entrado para o livro dos homens de confiança de Dr.João Santos Filho. Tinha largado a Escelsa

 
A RADIO

Montar uma radio, principalmente dentro de um grupo industrial forte na época, era muito difícil, complicado. Por ser novo, convidei três pessoas mais velhas e com experiência para trabalhar comigo, principalmente no início. Chamei Geraldo Sobroza com vasta experiência em radio e administração, convidei Eurídice Gagno para gerir a parte comercial e Jose Américo Mignone, com quem aprendi radio para que eu não tivesse chance de errar.

 
Montamos uma bonita e segura estrutura de radio, tanto física como em equipamentos. Isso causava inveja na própria empresa, mas como João Santos aprovava o que eu estava fazendo, os invejosos engoliam seco.

 
Foi montada uma equipe com os melhores profissionais de radio. Os primeiros foram: Miguel Roldan, Marcos Wyatt, Guarnandir Silva, Luis Carlos Coelho, Edu Henning, Marcos Jose Lima, Adilson Paixão, Adilson Caetano, Gastão Follador, a técnica com João Caruru. Programas com Marien Calixte e o médico José Saleme, os especiais de Edú. Depois vieram outros.

 
Teve um episodio que merece registro. Fomos autorizados a colocar outdoors de inauguração. Uma agencia (que não existe mais) criou o outdoor. Mas não aceitei, então resolvemos criar e criamos. Dizia o seguinte, curto e grosso: OUÇA (bem grande, centralizado), logo abaixo, menor: RADIO TRIBUNA FM 99,1. Do lado direito embaixo, A PARTIR DO DIA 30 DE MARÇO. Só isso, nas cores de cimento molhado verde claro. Pronto, chamava a atenção aquele OUÇA de todo tamanho. As pessoas queriam ler o que estava abaixo e liam o nome da radio. Atingimos o objetivo sem a cooperação das agencias.

 
CONTRUÇÃO DA RADIO

João Santos Filho tinha seus homens de confiança aqui em Vitoria. Ambos de Cachoeiro, que antes trabalharam com ele na fabrica de Monte Líbano. Um deles era Nero Abranches, o outro era Rubinho Grilo. Ele havia ordenado que a radio fosse construída na parte térrea da sede e assim fizemos. Bonitas instalações, planta bem elaborada, boa mobília, etc, como ele queria que fosse.

 
QUADROS

Quando estive nos Estados Unidos pela primeira vez, visitei uma radio em New York onde ela colocava quadros de seus principais apresentadores através dos corredores da emissora. Fizemos o mesmo com o pessoal que ocupava microfone na Tribuna FM.

 
INTERFERÊNCIA

Mas rolava uma certa inveja com o pessoal do jornal. Lembro que Rubinho Gomes era editor chefe e Marien Calixte diretor. Eles viviam querendo se interferir na programação da radio com coisas do jornalismo. A emissora ja tinha seus noticiários na linguagem radio.

CAPÍTULO NOVE

 
AINDA FASE NASSAU (TRIBUNA FM)

 

NO AR

A Radio Tribuna FM entrou no ar depois de muitos encontros e desencontros. Muitos fatos ocorreram antes disso. Transmissor com defeito de fabrica, cartucheiras problemáticas, torcida contra dos concorrentes. Mas colocamos no ar no prazo estabelecido, virando noites, com toda equipe presente dia após dia.

 

Até o pessoal que veio montar a torre se envolveu, principalmente quando ouviram o técnico da Gazeta, vizinha da Tribuna na Fonte Grande, perguntar a eles qual seria a frequência para sintonizar, desdenhando. Ele não acreditava que iríamos entrar no ar no tempo estabelecido pelo ministério

 
Um dos instaladores da torre (pessoal do sul do pais) ouviu o desdenho da pessoa citada. Ele desceu e perguntou: “Quem é esse senhor e o que é aquela casa?” Dissemos que era técnico da Gazeta e que aquilo era a casa dele e dos transmissores. Ele retrucou: “Pois diga aquele senhor que se depender de nos, a sua radio vai entrar no tempo certo”, e subiu rapidamente, furioso. E a aprontaram dois dias antes. Um deles caiu da torre e viu a radio ser inaugurada na cama do hospital aqui em Vitoria. Não esqueço essa gente!

 
A galera da radio, reunida no estúdio no dia de entrar no ar, ficou emocionada quando ouviu a primeira gravação, voz de Eliakin Araújo, com o tema Rocky II de fundo. Fui ver esse filme no Rio e comprei o LP importado. No filme, Rocky Balboa não desistia nunca e como estávamos em momentos parecidos, na ânsia de ir em frente, quis colocar sua musica na abertura oficial da emissora como uma lembrança.

 
Baseado no filme e em nossa dificuldade, fiz um quadro com a figura de Sylvester Stallone com os punhos cerrados e virados para cima e embaixo os seguintes dizeres: “ Persistência: A Razão da Vitoria” Esse quadro foi colocado na minha sala. Era o que a gente sempre teve: Persistência!

 
O “CASE” ASAS

Trouxe dos Estados Unidos um folder de uma radio, que tinha uma asa aberta como mote. Pegamos aquilo, a criamos “Tribuna – A Força do ar”. Confeccionamos plásticos com essa asa, nas cores preta e prateada e distribuímos nos PIT STOPS. Muitos carros em Vitoria usavam esse adesivo no vidro.

 
RICK WAKEMAN

Não me recordo quem o trouxe a Vitória. O musico do Yes talvez tenha sido uma das primeiras aparições internacionais famosas por essas bandas. A Radio Tribuna conseguiu ser a promotora do show e fizemos uma entrevista com ele, tendo á frente Edu Henning, que era nosso entrevistador oficial.

 
WOOPS

O conjunto musical Woops fazia muito sucesso no Estado. Era de Vila Velha, sob o comando de Paulinho e seu irmão. Pedimos que eles colocassem voz na introdução de algumas musicas escolhidas por nós. Eles gravaram no próprio estúdio e ficou sensacional. Eles imitavam o Bee Gees, e bem! Transformamos essa ideia em vinhetas para a radio e elas foram ao ar e marcaram os ouvintes

 
ESTAGIO FORA

João Santos ficou feliz com sua radio em Vitoria. Ele tinha me avisado que não queria ser envergonhado com uma coisa pífia. A radio era a sensação do momento, modéstia á parte. Ele então me chama ao Rio novamente, desta feita junto de Monica, minha mulher.

 
Em seu apê de luxo em Ipanema, ele fala comigo, como se fosse um segredo. “Quero que você vá para os Estados Unidos se aperfeiçoar em radio e televisão, pois você será um dos que ficarão á frente dessa rede que pretendo montar lá no ES”

 
Fui e fiquei 40 dias em radio e televisão. Foi tudo facilitado já que a Bonneville Media Communication, na figura de Douglas Borba, abriu as portas de seus complexos de radio e TV em Nova York, Salt Lake City, Seattle e depois Los Angeles. Aprendi muito.

 
Douglas Borba rodava sua gravação de curiosidades no programa Jairo Maia e levou anos rodando ali. Quem não se lembra do “permita-me um momento”? Era um dos programas da Bonneville

 
A FATALIDADE

Tinha voltado dos Estados Unidos já fazia um mês, João Santos entrou na minha sala (coisa difícil dele fazer) e diz “ ..estou muito satisfeito com seu trabalho. Vamos em frente...” e saiu.

Dois dias depois ele embarcava para o Paraguai, em avião particular onde estava escolhendo terras para montar uma fabrica de cimento no pais vizinho. Mas o avião sofre um acidente, morrendo ele, um politico que o acompanhava e o piloto.

 
Muitas coisas aconteceram em seguida que não merecem serem descritas, pois os nomes envolvidos eram e são da pior qualidade humana. Para concluir, esses arrumaram um jeito de me dispensar da Nassau sem mais nem menos. Fui parar no olho da rua. Eu e Geraldo Sobroza. Ou seja, fiquei órfão profissionalmente, injustamente. Mas Deus sabe o que faz e castigou alguns envolvidos....

 
INÁBEIS

João Santos Filho havia colocado na direção da empresa que não tinham nada a ver com comunicação. Um coronel do Exército da reserva, um administrador sem noção para o negócio e uns jornalistas que se bastavam. Mas havia um boato interno que João Santos iria mudar tudo isso quando voltasse de viagem fatídica

 
O MOMENTO

Passado uns dias, fui comunicado que seria demitido. O Motivo não ficou claro para mim até hoje. Saímos eu e o sr. Geraldo. Mesmo assim fui chamado á Recife para conversar com os diretores de lá, membros da família. Perguntaram porque eu não seguia as normas impostas pela nova direção. Respondi que simplesmente não as entendia e que era difícil segui-las. Disse também que elas eram equivocadas para os padrões da empresa. “Por isso que você foi demitido, por não seguir as normas da nova diretoria em Vitoria”, disseram eles.

 

CEMITÉRIO

Já que estava em Recife, pedi para ir ao cemitério me despedi de João Santos Filho, que foi enterrado no jazigo da família, ao lado do filho dele mais novo, morto em acidente der carro. Disse que queria fazer isso, pois o pessoal de Vitoria (os inábeis) não me chamou para iri no avião que fretaram para o enterro. Foram todos, menos a minha pessoa. Eles sabiam da pretensão de João Santos comigo e me ignoraram de propósito. Em Recife colocaram um motorista a minha disposição. Visitei o túmulo, me despedi dele, entrei no carro e fui para o aeroporto. Estava consumada minha saída do Grupo João Santos.

Mas depois eu voltaria. Caprichos do destino

O grupo em Recife nomeou seu irmão mais velho para assumir a Nassau. Com ele vieram umas pessoas esquisitas, que aqui ficaram. O pessoal da radio começou a fazer corpo mole.

 

A LUTA DOS MENINOS

Aqueles que acompanharam a luta da instalação da Tribuna FM ficaram revoltados com a maneira com que sai da empresa. Ficaram principalmente chateados com o substituto, um sujeito que nada tinha a ver com radio e foi denominado de “Paquinha”, diminuitivo de paca.

 
Percebendo que o Sindicato dos Radialista não se pronunciava a respeito deste ato, Miguel Roldan, Guarnadir Silva e Luís Carlos Coelho resolveram entrar para o Sindicato, se tornaram diretores e lá fizeram uma “revolução” Pelo menos serviu de consolo para mim, fora a dinâmica sindical que deram ao órgão representante da classe.

CAPÍTULO DEZ

 
FASE PÓS TRIBUNA ATÉ GOVERNO GERSON CAMATA

 

ROGERIO MEDEIROS

Fiquei algum tempo descansando após me “dispensarem” da Tribuna. Uma vez, com Zach e Ranuze, ainda pequenos, na frente do prédio onde morávamos, parou um fusca e dele saiu um sujeito de cabelos grisalhos e me disse¨ Você que é o Mignone? Te sacanearam lá na Tribuna? Pois saiba que estamos de olho naqueles caras. Esta é minha solidariedade a este seu momento”

 
Atônito, vi que era Rogerio Medeiros, então presidente do Sindicato dos Jornalistas, naquela ocasião em acordo salarial com a Tribuna. Impetuoso, soube depois que Rogerio endureceria o acordo coletivo, principalmente com o senhor Hélio Esteves, então na administração geral. 

 

ANTÁRIO FILHO E A TROPICAL FM

Momentaneamente fora do radio fui procurado pelo jovem Antário Filho. Veio e disse que estava montando uma FM e que gostaria que eu o ajudasse. Ele já que conhecia a fama da Tribuna FM como radio de ímpeto no mercado. Eu e ele Fomos ate o local onde estava sendo montada a radio, era  embaixo de um dos prédios do colégio deles (FAESA), em Itaquarí, Cariacica.

 
Fiquei impressionado com a falta de tudo. Ai, resolvi ajudar aquele rapaz. Dei uns ajustes nos estúdios, pedi para mudar os equipamentos,  que já haviam adquiridos, mas que não serviam, ajudei na seleção do pessoal (muita historia ai) e consegui um feito inédito para que a radio tivesse discoteca. Naquela época era impossível. Hoje com o advento da Internet pode qualquer coisa. 

 
Na época nenhuma radio podia ir ao ar sem muitos discos. A Tropical não tinha NENHUM . Através do saudoso Marcos Jose Lima, o Marcão, que era representante da famosa CBS, foi feito uma parceria, tida como inédita pela gravadora, com envio de caixas e mais caixas de lps variados. Eram quase todos os discos que haviam sidos lançados nos últimos dez anos

 
Entrou-se no ar com especiais de 1 hora de Roberto Carlos, Júlio Iglesias, Ray Conniff e por ai afora. Um mês depois chega em Vitória a figura máxima da CBS no Brasil na época, Roberto Augusto, com um disco de ouro para a emissora. Foi a única radio do país a ganhar um disco de ouro em menos de 90 dias no ar

 
Uma turma boa começava na Tropical, com muita garra: Kazinho, Fabio Pirajá, Juninho Megahertz, Toninho Hulk, Roni técnico, Tobias, Nivaldo Passamai. Depois vieram os outros.

 
Lembro que levei aquele quadro do Rocky II para lá, pois a radio iria precisar de muita “persistência” para ficar no ar e ter sucesso, como teve a Tribuna. Coloquei na parede onde seria o estúdio, pois estava ainda em construção.  Era o  retrato de Rocky, com os punhos levantados e os dizeres; “Persistência – A Razão da Vitoria”.

 
Antário Filho nunca mais deixou ninguém mexer naquele quadro, ate ser morto naquela noite fatídica. Antarinho era um cara entusiasta, educado e honesto, bom caráter.  O quadro ficou lá, respeitado por todos ate um dia eu voltar a trabalhar na Tropical e tirar o quadro. Mais isso é outra historia...

 

 
GERSON CAMATA E A CAMPANHA

Camata entrava em campanha para o governo do estado. Sabedor que eu tinha saído da Tribuna me convidou para seu escritório de campanha política chefiado por Jose Moraes. Remunerado, fiquei lá ate ele se eleger governador. O escritório era na Gama Rosa no centro. Ali foi meu primeiro contato com as nuances da politica e com os políticos.

 
Lembro da peregrinação de pessoas naquele lugar. Na realidade o artífice de toda campanha foi Zé Moraes.

 
Lembro também que cheguei a esboçar um livro de memórias (não tão como agora) onde constavam apenas lugares e nomes. Mas não em frente.

 
ANDANÇAS POLITICAS

Certo dia, em campanha, eu e Gerson fomos almoçar na casa dele. Ele estava morando em Vila Velha.  La estava Rita preparando o almoço pra gente. Após a refeição, Camata fala assim comigo: “Olha, tenho uns encontros esta tarde e quero que você faça uma coisa, toda vez que eu estiver demorando na conversa com alguém, você chega perto e fala, ‘Camata, estamos atrasados’! Só isso e se afasta, disse ele.

 
No primeiro encontro, eu vendo que ele estava demorando muito em uma conversa, apliquei o que ele queria, cheguei e disse que ele estava atrasado. A resposta: ‘pode deixar, nunca estou atrasado!’

Nunca mais eu disse que ele estava atrasado. No fim, Camata também era um grande gozador, zoador!

 
Na época que ainda era deputado, lembro de um episódio dele em uma viagem para Brasília. Estávamos, eu e Monica, indo para Brasília, após o casamento, no qual ele foi padrinho, mas não compareceu. Se redimiu proporcionando uma semana em Brasília em seu apê funcional...com ele lá.

 
Naquela época, além de fartura de comestíveis á bordo, as xícaras de cafezinho e os talheres tinham a logomarca de cada empresa aérea.
Após a gente ter tomado o café, ele pegou a sua xícara e a minha, enxugou num guardanapo e falou: “Toma, guarda aí no